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O juiz que pecava


Por Raimundo de Holanda

09/06/2019 22h59 — em
Bastidores da Política



O Ministro Sérgio Moro chega nesta segunda-feira a  Manaus  com uma preocupação a mais: limpar a bagunça feita em sua biografia após a divulgação de chats privados entre ele, então juiz,  e o procurador Delton Dellagnol, da Força Tarefa da Lava jato. Sejam quais forem as desculpas dadas -  na Nota do MPF, ou nas alegações de Moro - não se anulam as suspeitas sobre sua conduta. Moro, que autorizou escutas e fez uso de informações privilegiadas, passadas a Dellagnol, agora tem suas conversas com o procurador expostas. E delas não se extrai nada que seja exemplo para ninguém que exerça a magistratura.

Qual a diferença entre intercepção telefônica “legal”em ambiente contaminado por interesses difusos, onde  acusação e juiz se confundem, e a invasão do celular de um magistrado que supostamente pecou pela falta de isenção? Grande a diferença. No primeiro caso "não há crime", mas há um condenável conluio entre quem acusa e quem julga; no segundo  há uma invasão de privacidade condenável. Mas este é o lado de uma moeda interessante, onde são revelados supostos pecados de quem não podia pecar, não podia transigir com a acusação, não podia seguir outro caminho que não fosse o da imparcialidade.

A divulgação de chats privados mantidos entre o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador da Lava Jato Deltan  Dallagnol, revelados pelo site americano The Intercept, é um duro golpe na maior operação de combate a corrupção no pais. E deixa a magistratura de certa forma constrangida. Afinal, um de seus maiores expoentes, o xerife, como alguns o chamavam,  não tinha um comportamento compatível com o exercício da profissão.

O QUE PRECISA SER APURADO

Os fatos são tão graves que o menos importante é como os chats privados ( de Sérgio Moro e Delton Dellagnol) foram obtidos pelo site. Neles fica claro que o comando da operação era do juiz, que orientava como os procuradores deveriam agir.  E a  opinião do ministro de como limpar o Congresso pode ser um obstáculo a sua indicação para o Supremo Tribunal Federal, que depende do aval do Senado:

"Ainda desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o Congresso. O melhor seria o Congresso se autolimpar, mas isso não está no horizonte"...

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ASSUNTOS: Delton Dellagnol, hakers, sergio moro, The Intercept

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.