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Filme sobre Queen estreia com a crítica dividida e acusações de ignorar sexualidade de Freddie Mercury

Por Portal Do Holanda

28/10/2018 7h44 — em
Cinema


Foto: Reprodução

RIO — O ator principal mudou. O diretor também. E houve até um arremesso de objeto no set. Várias dificuldades marcaram a conturbada produção de “Bohemian Rhapsody”. Mas a cinebiografia da banda britânica Queen superou os problemas de bastidor e chega aos cinemas na próxima quinta-feira. Será que a espera valeu a pena?

A sessão para a imprensa brasileira só acontece nesta segunda-feira. Mas, lá fora, a unanimidade em torno das músicas do grupo liderado por Freddie Mercury (1946-1991) não se traduziu no filme.

“Bohemian Rhapsody” teve pré-estreia em Londres na semana passada. No Rotten Tomatoes, site que compila resenhas especializadas, a aprovação era de 56% até a tarde deste sábado. O consenso é que, apesar de acertar em alguns pontos, sobretudo na performance de Rami Malek, que, diz a crítica, encarna o cantor com fidelidade assustadora, o longa se mantém na superficialidade e oferece mais um medley de músicas do que uma coletânea de grandes sucessos.

Em geral, os críticos culpam a caretice da narrativa, que não vai além dos clichês esperados de uma cinebiografia tradicional. O “New York Post” defendeu que o foco deveria estar na vida particular e complexa de Freddie Mercury, e não na recriação de show atrás de show — ainda que as cenas musicais sejam bem feitas, particularmente a que retrata a histórica apresentação no Live Aid, em 1985. É esse, aliás, o ponto final do filme. Ou seja, a luta de Mercury contra a Aids, cujo vírus contraiu dois anos depois, fica em segundo plano.

“Esse ‘hino’, feito no maior estilo karaokê, tem estilo, mas não alma”, comparou o jornal britânico “Independent”.

Mesmo assim, o Queen tem uma legião enorme de fãs e os estúdios da Fox preveem facilmente uma bilheteria de US$ 30 milhões só no primeiro fim de semana.

Diretor é excluído do pôster

Difícil é dizer o que poderia sair diferente caso as filmagens tivessem sido mais tranquilas. Os problemas começaram já com a contratação do cineasta Bryan Singer, que tem um histórico de acusações de abuso sexual. Para piorar, o diretor de “Os suspeitos” (1995) e “X-Men” (2000) se ausentou do set alegando problemas familiares.

Cansado do comportamento pouco profissional do diretor, o protagonista Rami Malek fez uma reclamação formal à Fox. Acredite ou não, a reação de Singer foi atirar um objeto no astro, incidente que contribuiu para sua demissão. O diretor de fotografia Newton Thomas Sigel foi quem filmou as cenas que faltavam.

Nos créditos, o nome de Singer continua aparecendo. Mas não se engane: só está lá porque assim determinam as regras do Sindicato dos Diretores (DGA, na sigla em inglês). Nos cartazes, o nome não é mencionado. Pode reparar.

Outra polêmica surgiu na ocasião do lançamento do trailer, em maio deste ano. Em termos de audiência, foi um sucesso: o vídeo já coleciona 14 milhões de visualizações. Mas gerou desconfiança por quase ignorar a sexualidade de Mercury. Há apenas uma rápida imagem do músico flertando com outro homem. Bryan Fuller, criador das séries “Pushing Daisies” e “Hannibal”, foi ao Twitter externalizar sua frustração, acusando a biografia de “heterossexualizar” o ícone do rock.

No longa, a relação de Mercury com Jim Hutton, que permaneceu ao lado do artista até a sua morte, por complicações da Aids, é ignorada. O foco está na ex-namorada Mary Austin (interpretada por Lucy Boynton), para quem o cantor compôs “Love of my life”.

“Sinto orgulho deste filme porque ele não ultrapassa nenhuma linha”, defendeu Lucy oynton, em entrevista ao site “Digital Spy”. “As pessoas sempre perguntam sobre o lado sombrio de Freddie, mas ( o filme ) é uma celebração de sua vida.”

Baron Cohen pulou fora

Como a fala acima indica, “Bohemian Rhapsody” vem sendo considerado chapa-branca. O projeto teve envolvimento, desde o início, do guitarrista e compositor Brian May, que sempre defendeu um filme que passasse uma imagem positiva da banda. Foi um dos motivos que levaram o comediante Sacha Baron Cohen, a escolha original para interpretar Freddie Mercury, a desistir do papel.

Rami Malek, vencedor do Emmy pela série “Mr. Robot”, encarou o desafio e deu certo. Tanto que já existem burburinhos para uma possível indicação ao Oscar. O ator teve até um consultor de movimento para ajudá-lo a simular os trejeitos de Mercury.

“Sempre que Freddie estava no palco, e em sua vida pessoal também, ele fazia tudo de maneira espontânea”, afirmou Malek, à agência Reuters. “Capturar essa espontaneidade foi a tarefa mais árdua.”

Grandiosidade que desafiou o tempo

Por Silvio Essinger

O Queen sempre foi o contrário do intimismo: ele atualizou para a linguagem do hard e glam rock dos anos 1970 — e para as multidões nas arenas — a tradição operística de ampliar todo o sentimento e desferi-lo sem dó na plateia. Freddie Mercury era a diva (magnético, obtuso, irredutível), e o guitarrista Brian May, o regente das sinfonias elétricas do grupo (já o baixista John Deacon e o baterista Roger Taylor, músicos de personalidade e talento, garantiram que a solidez do propósito real se mantivesse intacta).

O Queen sobreviveu ao punk antimonarquista e aos anos 1980 (metamorfoseando-se em uma poderosa banda dançante). Após a morte de Freddie, sua influência no rock só fez aumentar. De Guns’N’Roses e Metallica a Foo Fighters e Muse, incontáveis foram os grupos que mandaram às favas o pudor de soarem maiores do que os estádios e que a vida.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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