Eram 40 minutos do primeiro tempo quando a torcida em São Januário gritou a plenos pulmões: “Tira o Fabrício”. Como o futebol é dinâmico e proporciona enredos inesperados, os mesmos torcedores tiveram que se render ao lateral/meia e o aplaudiram quando ele foi substituído no segundo tempo. Àquela altura, o jogador já tinha dado como resposta o cruzamento para o primeiro gol do Vasco.

Com o placar de 2 a 0 ao fim da partida contra o Cruzeiro, a turba revoltada que vaiou na saída para o intervalo — mais pelo contexto de desempenho no campeonato do que nos 45 minutos iniciais — não teve outra alternativa senão demonstrar o reconhecimento pela importante vitória cruz-maltina em casa, que traz um pouco de alívio na luta contra o rebaixamento no Brasileirão. Os gols foram de Yago Pikachu e Maxi López.

O Vasco agora tem três pontos de distância para a Chapecoense, primeiro time na zona da degola. O triunfo deste domingo interrompeu a sequência de três empates, que, embora não tenha trazido o amargo gosto da derrota, não permitiu um distanciamento para uma área mais segura na tabela. Mudando a perspectiva, já são seis jogos de invencibilidade na competição.

— Importante para dar sequencia de jogos, sair do sufoco e ficar confiante para o final do campeonato — disse López.

Personagem principal do jogo por causa do ambiente ambíguo que se desenho em São Januário, Fabrício mais uma vez foi escalado pelo técnico Alberto Valentim para atuar de forma centralizada no meio-campo do Vasco. Diante da lista dos que foram a campo, esperava-se que ele pudesse ocupar a faixa esquerda do campo, fazendo uma dobradinha com Ramon. Mas não foi isso que se viu. Deslocado da posição de origem, Fabrício não conseguiu brilhar no primeiro tempo, assim como todo o time do Vasco. Não houve lances absurdos, mas o histórico de alvo das críticas da torcida talvez tenha pesado para que surgisse o clamor contrário das arquibancadas.

O episódio deste domingo faz lembrar o Carioca. Em março, ele também não tinha a melhor das relações com a torcida, mas foi o autor do gol, no último lance do clássico contra o Fluminense, que levou o Vasco à decisão. Contra o Cruzeiro, que entrou com reservas porque prioriza a final da Copa do Brasil, quarta-feira, Fabrício não marcou, mas foi fundamental para o gol que desafogou o cruz-maltino na partida. O cruzamento da esquerda, setor em que ele rende mais, encontrou Yago Pikachu na área. A bola só chegou, diga-se, pela sagacidade de Maxi López, que fez um corta-luz e deixou a bola para o companheiro.

— Poucas pessoas que gostam de mim e eu vou correr por elas — disse Fabrício, substituído 17 minutos após o passe para o gol.

A vitória do Vasco ficou completa com outro lance que mostra o quanto Maxi López se distingue de outros centroavantes que jogam por essas bandas. Com o corpanzil, ele roubou a bola de Lucas Silva na área. Com um pé canhoto afiado, acertou um chute no canto de Rafael e sacramentou o placar. Com a expulsão de Mancuello, o Vasco seguiu inabalável até o apito final.