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Uso de crédito não bancário cresce na crise

Por Agência O Globo

14/10/2018 3h29 — em
Economia



RIO - O número crescente de pequenos empresários e fornecedores sentados à mesa espelha o aumento da participação do crédito mercantil — obtido junto a fornecedores ou outros créditos não bancários — nas empresas brasileiras nos anos de crise econômica. A fatia subiu de 32,3%, em 2013, para 38,7%, em 2016, tendo recuado a 37,6% no ano passado, mostra estudo da Serasa Experian. A previsão, porém, é que o número volte a crescer em 2018, diz Luiz Rabi, economista responsável pela pesquisa:

— Havia, ano passado, uma estimativa de que a economia iria avançar em 2018. Mas isso não aconteceu. Muito provavelmente, os números deste ano vão mostrar que o crédito mercantil voltou a crescer porque é o que estamos vendo na prática.

O setor comercial — dentre os quatro pesquisados, incluindo ainda primário, indústria e serviços — foi o que registrou o patamar mais alto de crédito mercantil, de 61%, em 2017, ainda que tenha sido o único a registrar decréscimo frente a 2016, quando ficou em 61,4%.

— O nível de inadimplência de pequenas e médias empresas é muito preocupante. E isso faz aumentar o uso do crédito mercantil. Se o empresário não tem como se financiar pelos bancos, ele tem de fazer isso junto a seus fornecedores. Nos anos anteriores à crise, de crescimento da economia, esse crédito recuou. O acesso ao crédito bancário está caro e reduzido. O que vem sustentando as atividades é o crédito mercantil — pontua Rabi.

Fernando Blower, do SindRio, que reúne os bares e restaurantes cariocas, cita ainda a longa duração da crise:

— A crise é muito longa, e os empresários queimaram reservas. O faturamento despencou 30% depois dos Jogos Olímpicos. Muitos antecipam recebíveis de cartão de crédito, mas isso tem um custo. E empurram vencimentos para frente.

A opção pela recuperação negociada com fornecedores se justifica, avalia Juliana Bumachar, advogada especialista em reestruturação e recuperação de empresas:

— É difícil justificar uma recuperação judicial para passivos inferiores a R$ 5 milhões, pelo custo do processo. Com a crise, mesmo os bancos estão mais abertos a negociar. E também os fornecedores, porque, mesmo perdendo, é a chance que eles têm de receber seus créditos mais adiante.

De acordo com o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, a situação é agravada pela escassez de capital de giro a micro e pequenas empresas no Brasil. Para ele, o segmento acaba não atendendo aos critérios de bancos nem do próprio BNDES na concessão desse crédito.

Relatório do Sebrae sobre o financiamento de MPEs, feito no fim de 2017, mostra que o pagamento de fornecedores a prazo é o canal de crédito mais utilizado pelas empresas, citado por 53% dos entrevistados. Já empréstimos por meio de bancos privados e públicos aparecem no fim da lista.

— Falta acesso ao capital de giro para as micro e pequenas empresas. Cerca de 85% delas não têm acesso a esse crédito. Diante disso, o principal financiador acaba sendo o próprio fornecedor, que flexibiliza o prazo que ele dá na compra da mercadoria — disse Afif.

Depois de mais que dobrar em 2017, quando atingiu R$ 7,7 bilhões, a concessão de capital de giro pelo BNDES a micro, pequenas e médias empresas desacelerou este ano. No primeiro semestre, foram aprovados R$ 2,3 bilhões. O valor corresponde a menos de 30% de todo o montante aprovado em 2017.

Tiago Luiz Peroba, chefe do departamento de clientes do BNDES, disse que o capital de giro é concedido de forma indireta, por meio de outras instituições financeiras, e que cabe a esses bancos aprovar a concessão do crédito. Segundo ele, 2017 foi um ano de crescimento acelerado, porque o programa de capital de giro aderiu à plataforma BNDES Online, que digitalizou e agilizou a liberação de recursos.

Ele ponderou que a maior parte dos recursos de capital de giro é destinada a pequenas e médias empresas. Em 2018, as grandes companhias absorveram 22,4% das aprovações de capital de giro do BNDES, contra 2% em 2017.

Segundo Horácio de Carvalho Afonso, dono de uma papelaria no Mercadão de Madureira e presidente da associação comercial do bairro, o aumento de calotes tem feito com que muitos fornecedores deixem de protestar as dívidas em cartórios:

— Eles sabem que, quando a questão chega ao cartório, o valor pode aumentar muito e nunca ser pago. Então, muitos estão negociando.


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