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Brasil cria 306 mil vagas formais de emprego em fevereiro, com impulso de serviços

Por Folha de São Paulo

27/03/2024 19h30 — em
Economia



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Brasil gerou 306.111 vagas formais de trabalho em fevereiro, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

O número supera com folga o resultado consolidado registrado em fevereiro do ano passado, quando foram abertas 252.487 vagas com carteira assinada no país.

Na comparação anual, em fevereiro deste ano, a geração líquida de vagas foi 21,2% maior do que em igual mês de 2023.

Também é bem maior que o esperado pelos analistas econômicos: a projeção era de 236 mil vagas.

Ao todo, no segundo mês deste ano, foram registradas 2,249 milhões de contratações e 1,943 milhão de demissões. Analistas alertam que não é adequado comparar os números com resultados obtidos em anos anteriores a 2020 devido a uma mudança de metodologia nos cálculos.

Os cinco setores de atividades econômicas tiveram saldo positivo em fevereiro, com maior impulso do setor de serviços -193.127 empregos formais. Também houve geração líquida de 54.448 postos na indústria, 35.053 na construção, 19.724 no comércio e 3.759 na agropecuária.

Às vésperas da nova divulgação, membros do governo Lula (PT) já repercutiam o vigor do mercado de trabalho. Desde o início do ano, foram criados 474.614 empregos formais no Brasil.

Em entrevista à rádio Itatiaia, na manhã desta quarta, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que o número de criação de empregos em fevereiro seria "bastante expressivo". "A economia brasileira inicia um ciclo longo de crescimento econômico e nós precisamos preparar a nossa juventude para ocupar esses postos de trabalho", disse.

Já o ministro Rui Costa (Casa Civil) afirmou um dia antes que os dados do Caged seriam "extraordinários".

Em entrevista a jornalistas, o ministro Luiz Marinho (Trabalho) disse que Lula ficou "muito feliz" com o resultado de fevereiro. "Esperamos que março venha reforçar ainda mais para enxergarmos uma tendência do que pode acontecer neste ano", afirmou.

Para Marinho, o Brasil pode ultrapassar a marca de 2 milhões de empregos líquidos gerados ao término do ano.

Dos cinco setores de atividades, quatro tiveram saldo positivo no primeiro bimestre de 2024. O grupo de serviços ajudou a impulsionar o resultado, com a criação de 268.908 vagas formais somadas em janeiro e fevereiro. Na sequência, aparecem indústria (120.004 postos), construção (81.774) e agropecuária (25.751). No comércio, houve saldo negativo de 21.824 empregos formais.

A força do mercado de trabalho vem soando como alerta para o Banco Central e para as perspectivas sobre o ritmo de cortes na taxa básica de juros (Selic) à frente.

Na ata do último Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada na terça (26), o colegiado registrou uma extensa discussão sobre a resiliência do mercado de trabalho e seus potenciais impactos sobre a atividade econômica e a inflação.

"Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação e sem ganhos de produtividade correspondentes, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra", disse.

Para o Copom, a evolução do comportamento do mercado de trabalho será muito relevante para determinar a velocidade com que a inflação atingirá a meta (3%).

Diante dos alertas do BC, Marinho criticou a atuação da autoridade monetária, defendendo maior redução dos juros, e afirmou que os diretores da instituição precisavam "estudar mais os fundamentos da economia".

Para o ministro, controlar a inflação por meio de aumento de juros e corte de crédito é uma "forma burra" de ação. O "jeito inteligente", segundo ele, é atuar pelo lado da oferta e exigir planejamento da iniciativa privada.

"Eu convido o Banco Central a aprofundar mais esse debate da produtividade do Brasil. Não por constatação, por números globais, é preciso dar uma aprofundada nas especificidades de cada setor para ver o que está acontecendo", disse.

No mês passado, o salário médio de admissão caiu para R$ R$ 2.082,79, uma redução real (descontada a inflação) de R$ 50,42 em relação a janeiro (R$ 2.133,21) –variação negativa de 2,36%. Na comparação com fevereiro do ano anterior, houve ganho real de R$ 28,29 (alta de 1,4%).

Os dados do Caged mostram também que foram abertas vagas de emprego em todas as regiões do país em fevereiro, sendo 159.569 no Sudeste, 84.862 no Sul, 34.044 no Centro-Oeste, 17.062 no Norte e 10.571 no Nordeste.

Em 24 das 27 unidades da federação foram registrados saldos positivos. O principal resultado foi verificado em São Paulo, com a geração de 101.163 vagas formais (alta de 0,7%), com destaque também para o setor de serviços (67.750 postos). Na outra ponta está Alagoas, com retração de 2.886 empregos formais (queda de 0,65%).

Quanto ao pessimismo dos brasileiros com a economia mostrada pela pesquisa Datafolha, realizada nos dias 19 e 20 de março, Marinho disse ver influência do aumento sazonal de despesas no início do ano, com o pagamento de contas como IPVA (automóveis), IPTU (imóveis) e compra de material escolar.

Na visão do ministro, não adianta "brigar com sentimento" e é preciso deixar o mercado de trabalho crescer para reverter essa percepção negativa.

O economista Matheus Pizzani, da CM Capital, viu o resultado positivo de fevereiro como um "sinal" da resiliência apresentada pelo mercado de trabalho brasileiro. No entanto, pondera que a composição do Caged não destoa significativamente do comportamento sazonal previsto, embora o saldo de empregos formais tenha sido maior do que o esperado.

Ele ressaltou que a maior parcela das vagas criadas no grupo de serviços se concentra no setor público (93.792 postos) e que o bom desempenho apresentado pela indústria pelo segundo mês consecutivo chama a atenção.

"Apesar de ser uma boa notícia, ainda é cedo para afirmar que isto pode resultar em melhora na produção do setor [industrial], tendo em vista que mesmo tendo criado 65 mil vagas em janeiro, a produção industrial recuou 1,6% de acordo com a PIM [Pesquisa Industrial Mensal] divulgada pelo IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]", disse.

Pizzani observou que houve queda generalizada no nível de salários entre janeiro e fevereiro, com exceção ao setor de construção, que permaneceu relativamente estável no período.

"Levando em consideração que a preocupação do BC se concentra no setor de serviços, de acordo com o que foi divulgado na ata da última reunião, mesmo a criação de vagas acima do esperado em fevereiro não deve ser vista como ponto de preocupação para os próximos passos da política monetária", afirmou.

A XP ressaltou que os dados do Caged vieram novamente acima das expectativas e que, em suas estimativas com ajuste sazonal, houve geração de 161 mil ocupações com carteira assinada no mês passado, contra 216 mil em janeiro -ambas superiores à média mensal ao redor de 120 mil registrada em 2023.

Para o economista Rodolfo Margato, os níveis historicamente altos tanto das contratações quanto dos desligamentos refletem o mercado de trabalho apertado e maior flexibilidade nas relações trabalhistas -com demissões voluntárias em patamar elevado.

Quanto à oscilação dos salários na base interanual, os números são vistos pela XP como "compatíveis com o cenário de mercado de trabalho apertado, mas não necessariamente superaquecido."

"O mercado de trabalho formal continua a surpreender positivamente e deve impulsionar a demanda doméstica. O firme crescimento do emprego e dos salários reais são os principais fatores por trás da nossa projeção de expansão de 2,5% para o consumo das famílias este ano", escreveu em nota.


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